Tinha sido um dia longo. Demasiado longo. Tive uma quantidade invulgar de trabalho fora do estúdio. Suspirei de alívio ao fim da tarde, quando parei pela primeira vez, sabendo que estava vivo apenas por respirar, sem saber onde tinha ido buscar tanta energia para fazer tantas coisas num só dia. Penso que nem tinha comido… E não tinha sentido falta.
Foi então que recebi uma chamada de um estúdio, com o qual colaborava há muito tempo, a pedir-me um trabalho urgente. Suspirei novamente… Desde que me dediquei à voz-off foi a primeira e única vez em que não me apeteceu cumprimentar o microfone. Nada pessoal. Mas a cama pareceu-me mais apetecível.
Assim, noite dentro, arrastei-me até ao computador, preparei o software de edição áudio, ampliei o guião no ecrã dentro da cabina de locução e meti mãos à obra. Tinha uns 15 minutos de texto para gravar e, do cansanso, demorei 45.
Porém, sim! Estava feito!
Saí da cabine de locução de sorriso aberto e os olhos semicerrados de sono. Suspirava de novo, mas de alívio. Era como se ouvisse anjos a cantar, em sinal de triunfo mas em tons de canção de embalar. O destino que se seguia era o leito do descanso.
Mas…
Olhei para o ecrã do computador… E…
Maximizei o editor de som…
Que…
Parou tudo…
Mas…
… Tinha-me esquecido de carregar no botão para gravar.